O presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) (Crédito: Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Investigado na Operação Lava Jato, o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), resolveu desengavetar e acelerar a tramitação de um
projeto de 2009 que prevê punições a crimes de abuso de autoridades, de agentes
da administração pública e membros de Judiciário, Ministério Público e
Legislativo. Muitos dispositivos da proposta estão em sintonia com reclamações
de parlamentares sobre a condução de ações da Polícia Federal e da força-tarefa
da Lava Jato.
Um dos artigos, por exemplo, prevê punição para o cumprimento de
mandados de busca e apreensão de forma vexatória. No início de junho, Renan
criticou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, dizendo que ele havia
“extrapolado” seus limites constitucionais ao pedir a prisão e a emissão de
mandados de busca e apreensão de senadores no exercício do mandato.
Outro dispositivo da proposta determina detenção de um a quatro anos
para cumprimento de diligência policial em desacordo com as formalidades
legais. Na semana passada, o Senado protocolou reclamação no Supremo Tribunal
Federal contra o juiz de primeira instância Paulo Bueno de Azevedo por promover
busca e apreensão no apartamento funcional da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
A petista e outros senadores também reclamaram do constrangimento que a
ação da PF teria causado, quando prenderam preventivamente o ex-ministro Paulo
Bernardo na frente dos filhos, menores de idade. Novamente em semelhança ao
caso, um artigo da proposta contra o abuso de autoridade prevê detenção por
ofensa à intimidade e vida privada.
O projeto prevê ainda pena a quem negar, sem justa causa, acesso da
defesa à investigação. Em maio, advogados do senador Romero Jucá (PMDB-RR),
então ministro do Planejamento e alvo da força-tarefa, chegaram a recorrer à
Procuradoria-Geral da República para ter acesso ao conteúdo das conversas
gravadas entre ele e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, subsidiária
da Petrobras. Na conversa, Jucá afirma que era preciso “estancar a sangria”,
numa referência à Lava Jato.
Delações
Nesta quinta-feira, 30, o presidente do Senado negou que a proposta
tenha como objetivo “interferir no curso” da operação.
Mas, ao tratar da lei de delações, Renan afirmou que é “preciso ter
regras” para a colaboração premiada. “Não vou mudar a lei de delação, apesar de
entender que ela precisa e pode ser modificada. Não é uma lei de 12 tábuas que
vai valer eternamente da forma que se fez.
A delação premiada precisa ter regras porque, se não, ela compensa o
crime. O que estamos vendo são pessoas que se entregaram ao desvio de dinheiro
público, amealharam milhões e milhões, depois faz uma delação orientada pelo
advogado e negociada com as autoridades, entrega parcela que desviou e salva
outra parte”, disse o presidente do Senado.
No Congresso, existem ainda outros projetos que tratam de limitação das
delações premiadas, uma das principais bases de investigação da Lava Jato. Na
Câmara, tanto o petista Wadih Damous (RJ) quanto Heráclito Fortes (PSB-PI) –
que é da base aliada do presidente em exercício Michel Temer – já apresentaram
propostas nesse sentido.
Ontem Renan também criticou vazamentos de depoimentos. “Nos EUA, se a
delação vazar, perde a eficácia, é anulada. Aqui, no Brasil, vaza-se de
propósito para forçar um julgamento do Judiciário e da opinião pública.
Liberdade de expressão não é só para os meios de comunicação, é para todo
mundo.” No início da semana, o procurador-geral da República fez críticas ao
que chamou de tentativa de acordões e manobras políticas para impedir o avanço
da Lava Jato.
Grampos
Um artigo específico do projeto trata de grampos telefônicos e prevê
detenção de seis meses a dois anos para quem reproduzir ou inserir nos autos
diálogo de um investigado com outra pessoa que seja protegida por sigilo.
A situação relembra o vazamento da conversa entre o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e a presidente afastada Dilma Rousseff sobre o termo de
posse para ministro. Na época, os petistas argumentaram que a presidente da
República não poderia ser grampeada. A oposição dizia que o alvo era Lula, que
não tinha foro.
O projeto que prevê punições para autoridades está na lista de
prioridades de Renan e vai passar pela Comissão de Regulamentação da
Constituição, presidida por Jucá. Tramitando desde 2009, a proposta foi
sugerida durante a discussão do 2.º Pacto Republicano, mas acabou esquecida no
Congresso.
Jucá disse desconhecer detalhes da proposta e ironizou qualquer relação
com a Lava Jato. “Quem disse que houve abuso na Lava Jato? Não sou eu quem está
dizendo isso”, afirmou o senador peemedebista.
Nesta quinta, o presidente do Senado também anunciou uma lista de nove
projetos que gostaria de trazer para votação em plenário nas próximas duas
semanas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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